Ninguém o viu partir e ninguém sentiu a sua falta. Ia e vinha de um lugar para o outro sem deixar raízes em parte alguma; sempre quis ser livre e naquele momento sentiu que tinha conseguido.
De que vivia? Era um mistério para quantos o conheciam, ninguém sabia da sua vida, nem do seu passado. Viajava até ao sul, em busca do calor e do mar, de céus estrelados e da lua cheia. À noite contava as estrelas e conseguia ler nelas, se podia dormir ao ar livre não se fechava em nenhuma gruta, mas quando o frio do inverno ou as escassas mas molestas chuvas o atingiam, não tinha outro remédio senão abrigar-se num tecto improvisado.
O aroma do mar, a sua cálida brisa, o azul penentrante… chamavam-no de novo para costas desconhecidas, porque nunca visitava um lugar duas vezes.
Uma tarde por fim, chegou a uma praia de areias brancas, de gentes tostadas pelo sol e olhos escuros, de casotas de cana e tectos de palha. Sentou-se numa rocha observando o ondular do mar e assim ficou algumas horas mergulhado nos seus pensamentos. Viu ao longe, na areia, um velhote reparando uma rede de pesca e aproximou-se sem o perturbar, fixando o olhar nas suas mãos calejadas tecendo com suavidade a rede áspera e ali ficou a contemplá-lo até ele ter terminado.
O velho pescador tinha-o visto chegar e quando acabou convidou-o para comer na sua cabana. Tecia redes desde menininho, aprendeu o trabalho com o pai e este com o seu avô... e nunca quis fazer outra coisa; amava o mar e temia-o também, razão porque nunca tinha subido a bordo de nenhuma embarcação; ainda assim sentia-se atado à imensidão azul que o rodeava. Comeram peixe e beberam vinho e falaram sobre mil histórias do mar, contos antigos de monstros marinhos, lendas já tão arreigadas naquelas costas como os seus habitantes...
9 comments:
Contraste imenso nesses 2 homens!
E onde vais buscar tanta inspiração, Cbugarim?
Bom fim de semana!
Tens toda a razão, um é mar e outro é terra.
As pessoas e os sentimentos inspiram-me.
Quase que te desafiava a continuar e, se o quisesses fazer nem que fosse por umas linhas, eu seguir-te-ia.
Bom fim de semana, Nuno, é sp um prazer voltar a ver-te.
Uma vez, andei pela Costa Vicentina (Alentejo) desde Porto Covo a Milfontes ~15Km, quase não se via viv'alma. Apenas alguns grupos de campistas que mais pareciam índios, com pinturas à base de carvão nas caras e nos corpos, e "tendas" de canas e farrapos. Parecia mesmo uma cena do MadMax...
Milfontes, é 1 lugar com uma escarpa sem praia ou falésia, junto ao mar.
A característica da zona que lhe deu nome, vem das cascatas que saem dessas escarpas. São resultado de charcos e lençóis de água "quebrados" nessas escarpas, e que proporcionam belíssimos duches, e viveiros de agriões...
(sacado de: http://www.hi5.com/friend/group/2599620--mazungue--front-html )
Quando a Joana era bem kandengue, passavamos férias no Alentejo, pertinho da praia do Almograve, numa pequena aldeia chamada Longueira.
Por vezes também ficavamos no Moinho da Asneira, uma espécie de turismo rural perto de umas salinas, náo me recordo a localidade.
Nunca mais conseguimos lá ir.
Um é mar e outro é terra,
que mistérios este contraste encerra?
Se contraditório é o próprio sentir
do homem liberto que permanece;
do prisioneiro que vagueia!
Que homem irá subir a bordo de uma embarcação?
E agora? "Partidaaa"........
lagarta, fugida.
Um beijinho
Coisas maravilhosas,1 ar descreveu!
Que homem irá subir a bordo da embarcação? Diria que é o pescador, para a sua última viagem.
Ao erante, vamos ver o que lhe acontece.
Acompanhas-me no take 2?
Um beijinho tb para ti,
Sim, será o pescador a embarcar, mas antes:
atraído pela paz que este lhe inspirava, o errante foi ficando e, sem se aperceber, actuava como sendo o centro de toda a terra e também do imenso mar, enquanto relatavam as lendas e os contos. À noite, dormia ao relento junto da cabana, mantendo o gosto de ler nas estrelas. Durante o dia, e perante uma tarefa que o pescador herdou dos seus antepassados, propôs ajudá-lo a tecer a rede de fio de prata, que uma vez lançada no mar se diluiria nos reflexos do luar. Mas absorvido pelas lendas e contos do mar, apenas segurava o novelo do belo fio e, por vezes, deixava-o cair atrasando o trabalho do pescador. E o pescador continuava paciente a tecer, ouvindo o errante, até finalmente terminar e poder embarcar.
Continua, pois...
Boa noite!
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