O meu avô António era diabético, mas à boa maneira africana, estava-se nas tintas para tudo o que lhe fizesse subir a glicemia. E nós, trastes inconscientes, fazíamos-lhe as vontadinhas todas.
Adorava o roupeiro que a avó Isaura tinha no quarto do meio, cheiiinho de coisas lindas, vestidos e adereços de cortar a respiração. Tinha um espelho de mão em prata que utilizava para retocar as sobrancelhas, pintar os lábios e realçar ainda mais um sinal que tinha no rosto. As fotografias que tenho de família, estavam lá também, guardadas e etiquetadas em caixas de papelão forradas a papel de lustro.
Mas o que me atraía mesmo eram as caixas metálicas onde o avô guardava as seringas que utilizava para a insulina. Ensinou-me a espetar as agulhas nas pernas e aquilo deu-me umas ideias demoníacas. Comecei a treinar nos chorões da minha irmã e numas horríveis bonecas de borracha que me ofereciam no Natal. A mim, desgraçada, que só gostava de dinky toys, pistas de carros e comboios, bicicletas e karts.
As galinhas, patos e afins da capoeira imensa que a avó tinha no quintal eram um tormento para as minhas brincadeiras porque a minha oficina era ali perto, no único lugar do quintal onde não havia nem sol, nem formigas. Credooooo, mesmo com mangueirada de meia-noite várias vezes ao dia, aquela bicharada fedia, aiii se fedia!!!
Na casa de banho, fora do alcance da criançada, havia um armário de parede (bem colocado lá no alto) onde a avó guardava alguns medicamentos. Utilizei o banco da despensa em madeira sólida, que servia para chegar às prateleiras mais altas e, com a ajuda da Olímpia (que era mais destravada do que eu), inspeccionei cada frasco e embalagem. Fui buscar o almofariz e comecei a fazer a mistela que iria aplicar na minha primeira experiência ao serviço da medicina.
Ao fim de uns quantos quininos, Asporos e pastilhas Rennie esmagados, devidamente misturados com alguns xaropes, pomadas, Mentolato, Leite de Magnésia Phillips, óleo de fígado de bacalhau, água oxigenada, álcool, tintura de iodo, mercúrio-cromo e outros compostos que fui adicionando, o preparado não estava suficientemente líquido para ser absorvido pela agulha da seringa que subtraí da mesinha de cabeceira do avô. Vai de ir buscar vinagre, azeite e algum petróleo que a Olímpia conseguiu aspirar do depósito de um fogãozito onde durante todo o dia se ferviam enormes panelões de água que era depois metida nos filtros de porcelana.
Adorava o roupeiro que a avó Isaura tinha no quarto do meio, cheiiinho de coisas lindas, vestidos e adereços de cortar a respiração. Tinha um espelho de mão em prata que utilizava para retocar as sobrancelhas, pintar os lábios e realçar ainda mais um sinal que tinha no rosto. As fotografias que tenho de família, estavam lá também, guardadas e etiquetadas em caixas de papelão forradas a papel de lustro.
Mas o que me atraía mesmo eram as caixas metálicas onde o avô guardava as seringas que utilizava para a insulina. Ensinou-me a espetar as agulhas nas pernas e aquilo deu-me umas ideias demoníacas. Comecei a treinar nos chorões da minha irmã e numas horríveis bonecas de borracha que me ofereciam no Natal. A mim, desgraçada, que só gostava de dinky toys, pistas de carros e comboios, bicicletas e karts.
As galinhas, patos e afins da capoeira imensa que a avó tinha no quintal eram um tormento para as minhas brincadeiras porque a minha oficina era ali perto, no único lugar do quintal onde não havia nem sol, nem formigas. Credooooo, mesmo com mangueirada de meia-noite várias vezes ao dia, aquela bicharada fedia, aiii se fedia!!!
Na casa de banho, fora do alcance da criançada, havia um armário de parede (bem colocado lá no alto) onde a avó guardava alguns medicamentos. Utilizei o banco da despensa em madeira sólida, que servia para chegar às prateleiras mais altas e, com a ajuda da Olímpia (que era mais destravada do que eu), inspeccionei cada frasco e embalagem. Fui buscar o almofariz e comecei a fazer a mistela que iria aplicar na minha primeira experiência ao serviço da medicina.
Ao fim de uns quantos quininos, Asporos e pastilhas Rennie esmagados, devidamente misturados com alguns xaropes, pomadas, Mentolato, Leite de Magnésia Phillips, óleo de fígado de bacalhau, água oxigenada, álcool, tintura de iodo, mercúrio-cromo e outros compostos que fui adicionando, o preparado não estava suficientemente líquido para ser absorvido pela agulha da seringa que subtraí da mesinha de cabeceira do avô. Vai de ir buscar vinagre, azeite e algum petróleo que a Olímpia conseguiu aspirar do depósito de um fogãozito onde durante todo o dia se ferviam enormes panelões de água que era depois metida nos filtros de porcelana.
Já com a mixórdia pronta e testada numa das bonecas da minha irmã Cristina, desci as escadas de trás que saíam da varanda da cozinha e com a enfermeira Olímpia, enfiei-me na capoeira. Não sem antes me apetrechar de duas bolinhas de algodão que coloquei nas narinas por causa do odor a caca de galinha.
A minha ajudante agarrou um pinto todo airoso que se atravessou no nosso caminho quando nos dirigíamos para o fundo da capoeira, junto ao poleiro, onde iríamos instalar a enfermaria de campanha. O coitado nunca mais se mexeu após ter levado a primeira inoculação. Eu hein???, que nem sequer tinha descurado o pormenor do algodãozinho com álcool para lhe esfregar a coxa onde tinha levado a intramuscular profunda!!!
Seguiu-se o estúpido do galo que me acordava de madrugada, um pato branco armado em cão raivoso que um dia me bicou uma canela e um pirúm, que antes da pica, levou com uma papinha de anestesia.
Só ao fim de ¼ de capoeira devastada, dois dias depois, me apanharam com a boca na botija porque a malvada da Mikas me denunciou. Da janela de um dos quartos tinha conseguido seguir em detalhe o tratamento aplicado aos seus vizinhos bípedes.
O meu avô não se ralou nada porque constatou que as técnicas que me ensinara, tinham resultado na perfeição. A minha avó pôs-me de castigo quase uma semana.
A Mikas nunca mais teve a ousadia de me dirigir palavra, não fosse ser atingida por uma seta impregnada no produto utilizado.
A minha ajudante agarrou um pinto todo airoso que se atravessou no nosso caminho quando nos dirigíamos para o fundo da capoeira, junto ao poleiro, onde iríamos instalar a enfermaria de campanha. O coitado nunca mais se mexeu após ter levado a primeira inoculação. Eu hein???, que nem sequer tinha descurado o pormenor do algodãozinho com álcool para lhe esfregar a coxa onde tinha levado a intramuscular profunda!!!
Seguiu-se o estúpido do galo que me acordava de madrugada, um pato branco armado em cão raivoso que um dia me bicou uma canela e um pirúm, que antes da pica, levou com uma papinha de anestesia.
Só ao fim de ¼ de capoeira devastada, dois dias depois, me apanharam com a boca na botija porque a malvada da Mikas me denunciou. Da janela de um dos quartos tinha conseguido seguir em detalhe o tratamento aplicado aos seus vizinhos bípedes.
O meu avô não se ralou nada porque constatou que as técnicas que me ensinara, tinham resultado na perfeição. A minha avó pôs-me de castigo quase uma semana.
A Mikas nunca mais teve a ousadia de me dirigir palavra, não fosse ser atingida por uma seta impregnada no produto utilizado.
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