Saturday, January 19, 2008

De vez em quando, escrevo...


Um pouco tarde me dei conta que para amadurecer não era preciso parar à espera que alguém nos cobrisse com o manto da sabedoria e da experiência. Aconteceu naturalmente e os meus sentidos e o Amor foram a única bússola capaz de me orientar na difícil tarefa que é crescer.
O tempo corre de maneira misteriosa e veloz. Num instante já és outra vivência, nasces e pereces a cada momento, fazes-nos sobreviver à tua duração e convertes-nos em tua memória, testemunhas das surpresas e dos enigmas, cúmplices do esquecimento e por vezes tão escravos da verdade.
Podemos fantasiar que as viagens só têm ida, que os lugares onde nascemos nos pertencem por direito, que as recordações nos fazem viver, que o mar é azul em todos os continentes, que as estrelas são parte do mesmo firmamento. Que o Universo é único. Mas fantasia e realidade são dois pólos que nem sempre se tocam.
Percorre agora tu alguns quilómetros... e deixa-me parar, um instante que seja, para te conseguir escrever com serenidade.
Sempre perguntei como divides destino e sorte, como teces essa rede de amor e abandono, como a vida treme perante a morte, e como tudo volta ao princípio.Enumerar cada coisa que te roubei, mais as que me entregaste por direito, é uma equação infinita, é mais que uma dúvida, é mais que uma vida. É uma oportunidade escondida dentro de si mesma, como um espelho, de um lado estamos e do outro somos imagem reflectida, invertida, repetida e única.
Tenho ainda tanto para te agradecer...

A vez que me deixaste fazer o meu próprio conto e começou a minha vida...
A vez que o meu olhar ultrapassou o que não entendia e aprendi a sonhar.
Quando o corpo, já com algum domínio, me proporcionou saltos maiores com as consequentes dimensões de risco. Com o medo na garganta mas o desejo no coração, assim venci os desafios, assim saboreei os momentos...
De criança sem ditadura a uma adulta escrava de ataduras.
De inocente curiosa a senhora de razões justas.
De menina sonhadora a mulher com incredulidade reservada.
É irónico, porque antes era a filha e hoje sou a mãe... Será que os papéis no teatro da vida nos são passados ou atribuídos por mérito?
Será que quando perdemos a vontade, a vida nos põe ocupados novamente?
Será que mesmo quando desejamos definir tudo à nossa medida, as coisas são como têm que ser e o valor que lhes atribuímos é simples inventário?
Será que a maneira como nos ensinam a fazer as coisas são apenas princípios básicos e os segredos são reservados para que mais tarde os possamos desvendar?
Quanta magia e sedução... o vento tem música... e silêncio, o pensamento...

O sorriso é doce... e amargos, os prantos...
Tem esperança, a espera... e prémios, as promessas...
Tem nome e verbo, o amor... tem tudo, nada lhe falta...
Somos nós que nos privamos de ver, de crer, de sentir e de absorver o que há em ti.
Se algo não tive foi porque não pedi ou não soube onde procurar...

Se recusei alguma vez o que me tocou viver foi por comodidade não por cobardia...
E se alguma vez me esqueci do quanto vales... esse dia perdido, conta também.
Nada te posso pedir porque me deste tudo, portanto, daqui para a frente continuarei a abrir os teus presentes...
Mas não me esqueço de te agradecer por me permitires ser quem sou.
Dou-te graças pelo espaço que me deixas... e se alguma vez se acabar o teu tempo, abraçar-te-ei nos meus sonhos eternos...

Postada ao som de Bonga



2 comments:

asperezas said...

:-)

CBugarim said...

Obrigada pelo sorriso.
É sempre bom receber um angolano em nossa casa.
Um beijinho,