Tuesday, April 8, 2008

Em contagem regressiva

Foto daqui

O oceano é o estranho caminho que encontro para despachar os sentimentos de falta que povoam a minha existência. Talvez porque seja o mesmo a norte e a sul dos meus dois poisos, como duas margens entre as quais navegam os meus pedaços de sentir.

Se estou do outro lado, embarco nesta direcção como se regressasse a casa à tardinha, para pousar a saudade na minha cria e compor cada ramo do seu ninho. Durante o dia, as horas passam velozes, sem momentos de pausa, sem tempo para ninguém, tampouco para mim. Com a noite, chegam os fantasmas manipuladores da solidão que jogam de esconde-esconde com os movimentos imaginários dos meus braços estendidos de novo para a abraçarem e embalarem o seu sono. Esgoto-me neste vaivém constante que me esvazia totalmente o coração, mas nem o cansaço me consegue adormecer se o ritual não se cumprir.
Quando chego a esta margem, a primeira sensação é de turista deslumbrado que se nacionaliza mal os pés tocam terra firme. Sinto-me mãe, mulher e fêmea. Não me desdobro, estou inteira. Mas aos poucos, brota uma saudade terrível (quase visceral) do que ficou para trás, daquela terra de vermelho tingida, do cheiro a maresia, do espreguiçar das palmeiras, da energia inesgotável que desperta ao mesmo tempo que o dia se pousa na minha almofada apátrida.

Como casar as minhas raízes com os meus frutos? Raízes? Não existem mais, secaram, sou apenas um arbusto que pegou de estaca noutra terra. Sou a espuma daqueles sulcos que deixam os barcos quando largam as amarras e navegam para alto mar. Sou ave de coração dividido que migra para absorver dos céus os equinócios que me faltam.

Ao fim de quase 5 anos, não consigo saber que terra é essa a que chamo lar e, paliativamente, vou e venho sem nunca perceber de que lado do mar é o exílio. Não há bússola que me oriente mas, dos compassos de tempo entre viagens, ficam os mapas espelhados e as vivências duplas de cada um dos dias que a vida me oferece.

De uma coisa tenho a certeza, ninguém consegue escolher itinerários, mas as partidas e chegadas podem sempre acontecer, nem que seja no labirinto dos nossos sonhos mais simples. É este o grande legado da vida, deixar que o nosso pensamento voe sem amarras e pouse quando sente vontade de voltar.

3 comments:

Anonymous said...

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o seu sentido
apelo do não.
As coisas tangiveis
tornam-se insensiveis
á palma da mão.
Mas as coisas findas
muito mais que lindas
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade.

CBugarim said...

Muito bonito o poema que me deixaste, querida Amália.
Já estou de partida, novamente, mas no blog estarei onde me leres.
Um beijinho e continua firme a tratar de ti.

Anonymous said...

Que Deus te acompanhe e te dê tudo de bom,tu mereces.
Beijos para ti e para a tua princesa.